VOCÊ JÁ FEZ RAFTING?
- Relatos e Crônicas com Giselli Oliva

- 30 de jun.
- 4 min de leitura

Enfim, vamos falar de rafting. Espero que vocês já o tenham praticado. Quem leu meu texto anterior, “Fuga 2”, já viu que me joguei nesse esporte despretensiosamente – mas muito necessitada psicologicamente daquilo – e acabei ficando.
Hoje, virou coisa séria: disputo o Campeonato Brasileiro e já participei de Pan-Americano e Mundial. Já já aposento o remo e permaneço somente no institucional (atualmente, estou presidente de uma associação ligada ao esporte). Por consequência, existem muitas demandas que a maioria não vê. Nem quem está com você na diretoria vê ou sabe de algumas metas e planos. Muita coisa deve ser projetada, executada e aguardada na “moita”. Como já diz aquele ditado: “quem não sabe, não estraga”.
Ninguém, absolutamente ninguém, tem ideia da burocracia, do estresse, do jogo de cintura, do networking e dos gastos envolvidos – que, muitas vezes, são pagos por nós mesmos para que, no final de tudo, os frutos surjam e o resultado pareça, aos olhos externos, extremamente fácil de ter sido executado.
De qualquer forma, esse texto não é para falar do meu percurso institucional, mas do esporte em si.
O rafting é um esporte ainda não olímpico, que usa a seu favor as corredeiras dos rios para sua prática. O bote, que comercialmente pode conter até nove pessoas com o condutor, passa por refluxos, ondas, corredeiras, quedas e, dependendo do risco, pode alcançar até o nível V ½. Um rio nível VI já não é mais apto à prática do rafting.
O rafting é praticado em várias localidades de São Paulo e pelo Brasil afora. Cito aqui algumas cidades que possuem esse esporte maravilhoso: Brotas (SP), Juquitiba (SP), Socorro (SP), Três Rios (RJ), Nova Roma (RS), Três Coroas (RS), Jalapão (TO), Sapezal (MT), Itacaré (BA), Extrema (MG), Chapada dos Veadeiros (GO), Jaciara (MT), Tibagi (PR), Foz do Iguaçu (PR), Indaial (SC), Apiúna e Ibirama (SC), Santo Amaro da Imperatriz (SC), entre outras.
Já falando do atletismo de alta performance, são poucas as cidades envolvidas. Contudo, uma cidade sempre acaba puxando atletas de outra para se juntarem aos times principais que representarão o Brasil nos campeonatos. Muita gente do caiaque rema no rafting, bem como muita gente do rafting rema no caiaque.
Adivinhem de onde é o meu time? Tá na cara, né? Óbvio que é de Brotas!
Para vocês terem uma noção sucinta da importância desse esporte – apesar de tanta burocracia nas leis de incentivo e subsídio, bem como da ignorância e incompetência de quem as rege e executa (ou nem executa...) – o Brasil possui, atualmente, 10 títulos MUNDIAIS (!!!), todos conquistados por um mesmo time de Brotas, chamado Bozo d’Água, o qual, inclusive, encontra-se no Guinness Book como a equipe que mais ganhou títulos mundiais ininterruptos na história desse esporte.
No início dos anos 2000, o atleta Lucas Coré, juntamente com outros atletas igualmente capacitados, formou a equipe. O termo “Bozo” surgiu por conta dos cabelos grandes e bagunçados dos atletas, que ficavam para fora dos capacetes igualzinho ao palhaço Bozo.
Desde 2003, a equipe vem disputando vários campeonatos: Brasileiros, Copas Nacionais, Pan-Americanos, Copas Internacionais e Mundiais. Hoje, configura-se como a equipe mais respeitada, mais admirada e mais estudada estrategicamente por atletas de outros países. Não é à toa que é a melhor do mundo.
E mesmo assim, incrivelmente, aqui no Brasil, ninguém sabe disso. Os rumores são insignificantes, pedir patrocínio é pior do que um trabalho de parto, e temos que mendigar 10, 20, 30 reais para conseguir pagar as passagens, estadias e alimentação. Obviamente, dependendo do campeonato, às vezes conseguimos alguns serviços, mas não se comparam aos gastos contabilizados.
Ahhh, mas os atletas dormem em hotéis, tomam bons cafés da manhã, as refeições são fartas!!! Vocês não têm a pálida ideia: as equipes já dormiram em estádios, com colchonetes no chão; em campings, com frio de 10 °C e banheiros compartilhados (com água quente por timer!!); competindo dentro de rios com água proveniente de degelo – ou seja, com temperatura de 3 °C. Já se depararam com marmitas de comida requentada; às vezes, nem proteína inserem nas refeições. Cafés da manhã com um misto quente e chá... E quando colocam uma prova logo após o almoço? Aliás, e quando a prova atrasa e ficam sem almoçar? Enchem o bucho com maçã, banana ou, simplesmente, com nada.E os deslocamentos, então!!?? Já presenciei atletas tendo que carregar os botes da chegada de volta à largada para poderem cair no rio e competir novamente...
Enfim, o esporte – quando não falamos de futebol – é sacrificante. O Estado não ajuda, a mídia muito menos, e quem se propõe a realizar os campeonatos, menos ainda. Há muita corrupção. Existem países que nos tratam melhor do que “nossa própria casa”. E estamos falando dos melhores do mundo!
Apesar de isso ser uma crítica, não é um problema isolado. É algo intrínseco da sociedade, da forma como tratamos o esporte, do valor que damos a essa prática tão importante.
Uma sociedade ciente de que a prática esportiva traz disciplina, resiliência, perspicácia, estratégia, orgulho, conscientização, organização, foco e tantos outros benefícios é uma sociedade que come melhor, que precisa de menos remédios, que possui menor dependência do sistema de saúde e que sabe que suas crianças estarão ali livres e seguras desse mundo tão cruel, frustrante e avassalador.
Pratique esporte. Pratique rafting. Pratique canoagem. Esporte é vida.
Giselli Oliva Para contato e palestras: personnelcahier@gmail.com






















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